A reunião do governo continua. Mas Bibi tem a maioria dos votos.
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Com a oposição da cúpula militar, multidões protestando nas ruas, uma flotilha com familiares de reféns navegando para Gaza, mas com a bênção do candidato a Nobel da Paz Donald Trump, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aprovou a expansão da guerra de 22 meses para o último bastião do Hamas, a Cidade de Gaza.
Nenhuma surpresa com a decisão do governo, pois Netanyahu tem a maioria dos votos de seus ministros. A execução, porém, não será imediata, dependente do deslocamento complexo de milhares de palestinos civis e de reforço militar, que incluirá comandos de forças especiais para, sendo possível, tentar o resgate de 20 reféns que ainda estariam vivos, mas que podem morrer atingidos por bombardeios, ou assassinados por seus captores, como prometido pelo Hamas.
Pela manhã, questionado pela TV Fox News, dos EUA, se Israel iria ocupar 100% de Gaza (já conquistou 75%), Netanyahu respondeu: “Pretendemos”. Depois, explicou por quê: “Para a nossa segurança, para remover o Hamas do poder e para permitir a transferência da administração civil de Gaza” (em outra entrevista, ele indicou, pela primeira vez, que a entregaria a forças árabes). “Não queremos governar Gaza”, acrescentou. “Queremos nos livrar e ao povo de Gaza do horrível terror do Hamas”.
A ofensiva teria o objetivo de obter concessões do Hamas para um cessar-fogo e troca de reféns por prisioneiros palestinos. Ambos os inimigos acusam o outro pelo impasse nas negociações. Para o Hamas, a expansão da guerra “representa uma clara inversão do curso das negociações e revela, claramente, os verdadeiros motivos da retirada (israelense) do último round (das negociações)”. E mais: “Netanyahu prova que não se importa em sacrificar os reféns”.
O chefe do Estado-maior das Forças de Defesa de Israel (FDI), general Eyal Zamir, deixou claro que estava contra a expansão da guerra proposta por Netanyahu, mas que a cumprirá, se aprovada pelo governo. Sua preocupação é com a fadiga dos reservistas, convocados para longos períodos no front em 22 meses, e porque ele não quer que seus soldados sejam responsáveis pelo governo de dois milhões de palestinos. Melhor, para ele, seria um cessar-fogo.
Antes de entrar para a reunião do governo, o general Zamir declarou: “Continuaremos a expressar nossa posição sem medo. Essa é a expectativa que temos também de nossos comandantes. A responsabilidade está aqui, nesta mesma mesa.” O premiê Netanyahu falou à imprensa que as FDI vão cumprir o que o governo decidir.
“A conquista total de Gaza é uma péssima ideia operacional, uma péssima ideia moral e uma péssima ideia econômica”, disse o líder da oposição Yair Lapid a Netanyahu, quando se encontraram hoje. “O que está sendo proposto é uma outra guerra, mais reféns mortos, mais soldados caídos e bilhões de shekels (a moeda israelense) dos contribuintes para financiar as fantasias do ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, e do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, que recentemente voltou do Conselho de Segurança da ONU, em NYC, revelou-se preocupado com a expansão da guerra em Gaza. Ele ouviu as críticas pesadas dos aliados de Israel à fome em Gaza, à guerra sem fim mais longa da história moderna israelense, e constatou o autoisolamento em que o país está, considerado um pária entre as nações. Aos 140 países que já reconheceram o Estado Palestino começam a se juntar os membros do Conselho de Segurança.
A Comissão Europeia está examinando a suspensão de Israel de acordos comerciais e econômicos. O embaixador britânico Simon Walter advertiu o governo israelense para o “grande erro” que vai cometer ocupando Gaza inteira. A Eslovênia decidiu não mais aceitar produtos exportados pelos colonos judeus na Cisjordânia. A vice-presidente da Comissão Europeia, a espanhola socialista Teresa Ribera, juntou-se a quem diz que Israel está cometendo genocídio em Gaza.
O Hamas surfa na onda internacional que lhe é favorável no momento. Com Israel encurralado, sob pressão, por que negociar um cessar-fogo? Tendo iniciado uma guerra selvagem, com um massacre de 1.200 pessoas em Israel, mulheres estupradas, crianças assassinadas e 250 reféns sequestrados, provocou uma retaliação em que seus combatentes se protegeram dentro de túneis, deixando a população sob os bombardeios israelenses, sem bunkers. Quanto mais mortos, e hoje eles já passam de 60 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, melhor para o Hamas e péssimo para Israel.
Até o fim da noite não havia notícia da flotilha que zarpou de um porto ao sul de Israel com 20 familiares de reféns a bordo. O plano era navegar até a fronteira marítima com Gaza, e de lá pedir a liberdade dos reféns – 50 ao todo, 20 ainda vivos e 30 mortos.