Tenho contato diário com centenas de estudantes de licenciatura de todo o país e acho muito lindo ver o brilho nos olhos de cada um deles e a forma como planejam atuar como docentes em atuação. Do outro lado, tenho contato com dezenas de professores, estes já em atuação há anos, e vejo um outro lado da moeda: um lado com paixão pela profissão, claro, mas tomado por um realismo necessário.
Direitos, sim; mas deveres também
Já começo reafirmando minha antiga opinião: professores e estudantes são vítimas do mesmo sistema. Não agrega em nada à discussão incitar a narrativa de um contra o outro.
Agora em termos práticos. De um lado, entendo que o professor é o agente adulto da situação, o profissional que está à frente das turmas e que assim, naturalmente, tem responsabilidade e deveres, mas o estudante também tem.
Entendo também todas as políticas de proteção ao estudante. Eu mesmo sou um pleno defensor do aluno, mas precisamos parar de isentar o discente de qualquer responsabilidade no processo educacional. Quando fazemos isso, independentemente de suas ações ou falas, estamos desvalorizando todas as dificuldades dos professores, invalidando suas dores e dificuldades, e limitando os próprios avanços no sistema educacional. Como avançar em desequilíbrio? com um lado carregando todo o peso sozinho?
Todos precisamos e devemos ter nossos direitos assegurados, mas também precisamos arcar com nossos deveres e com nossas responsabilidades.
Expectativa do futuro não pode atrapalhar o presente
Entre os que defendem que os estudantes não têm qualquer tipo de responsabilidade, os argumentos de defesa se pautam nas falhas do sistema educacional.
Ou seja, se o estudante não presta atenção, a culpa é do sistema; de desrespeitar o professor, a culpa é do sistema; se atrapalha a aula, a culpa é do sistema; se prefere ficar nas redes sociais, a culpa é do sistema que não é atrativo o bastante. Ele, enquanto indivíduo, portanto nunca deve ser responsabilizado. Se um estudante agredir um professor, física ou verbalmente, a culpa também é do sistema?
Em um sistema educacional perfeito, talvez não houvesse mau comportamento, desrespeito ao professor. Nesse cenário, todos os estudantes estariam plenamente interessados na aprendizagem.
Mas, pessoal, o que faremos até lá? Sentamos e esperamos? Paramos todo o sistema educacional para reforma? Seguimos isentando os estudantes de toda e qualquer responsabilidade?
Creio que precisamos de políticas de curto e de longo prazo e uma não precisa prejudicar a outra. De um lado, claro, vamos lutar para melhorar nosso sistema educacional, para os alunos como também para os professores, mas por outro lado, o que devemos fazer com os alunos e professores que estão no sistema atual? Vamos seguir culpando e responsabilizando os professores por tudo? Não me parece justo e tampouco inteligente.
Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.
Autor: Vinícius De Andrade