Caminhonete atingida por avião
Cenipa
Um dos fatores que contribuíram para o acidente foi a distração dos controladores de voo segundos antes da decolagem; câmeras flagraram supervisor mexendo no celular.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) divulgou o relatório final sobre o incidente envolvendo um avião da Gol e uma caminhonete de serviço estacionada na pista do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, durante a decolagem.
O caso aconteceu na noite de 11 de fevereiro deste ano e as investigações foram finalizadas no fim de julho. A aeronave, modelo Boeing 737-8 Max, de prefixo PS-GPP, cumpriria um voo do Rio de Janeiro para Fortaleza (CE).
Seis tripulantes e 103 passageiros estavam a bordo. Uma passageira idosa, usuária de bolsa de colostomia, relatou abalo emocional logo após o incidente e precisou de atendimento médico.
No veículo de serviços da concessionária estavam dois funcionários, que faziam a manutenção das luzes de sinalização da pista. Um deles conseguiu se afastar a tempo, mas o outro permaneceu no carro durante a colisão. O ocupante se deitou nos bancos e ficou preso às ferragens.
Segundo os peritos, um dos fatores que contribuíram para o acidente foi a distração dos controladores de voo segundos antes da decolagem. Imagens de câmeras de segurança obtidas pelo CENIPA mostram que o supervisor da torre de controle estava no celular e não percebeu que o controlador havia liberado a decolagem do avião da Gol mesmo com o veículo de manutenção na pista.
Cerca de 40 segundos antes da colisão, o controlador notou o erro e questionou o supervisor se o veículo havia sido retirado, e o chefe confirmou que não. Surpreso, o funcionário reagiu:
“— Ai, meu Deus!”, disse.
Apesar disso, a decolagem não foi interrompida. Três segundos após perceber a falha, os pilotos não foram informados e iniciaram o procedimento de aceleração normalmente.
Pouco depois, o supervisor acionou o motorista da caminhonete e solicitou a liberação da pista, mas não determinou a desocupação imediata nem informou que havia uma aeronave em procedimento de decolagem.
Cerca de 20 segundos após a solicitação, o motorista informou que sairia da pista, mas, instantes depois, ocorreu a colisão. A aeronave estava a aproximadamente 283 km/h.
De acordo com os dados analisados pelo Centro de Investigação, os pilotos avistaram o veículo cerca de meio segundo antes do impacto e realizaram uma manobra para reduzir a velocidade e frear imediatamente. Após a parada da aeronave, o comandante comunicou a torre sobre a interrupção da decolagem, mas não houve resposta.
Dezessete segundos depois, os pilotos reforçaram a ocorrência pelo rádio e afirmaram que houve uma colisão.
Somente dois minutos e meio depois a torre acionou a equipe de emergência do aeroporto. O desembarque dos passageiros foi feito por uma escada.
Os investigadores consideraram a postura do supervisor “inadequada”, contrariando as responsabilidades do cargo. Ainda segundo o órgão, caso os pilotos tivessem sido avisados imediatamente após o controlador se lembrar da presença do carro na pista, poderiam ter conseguido reduzir a velocidade a tempo de evitar a colisão.
As investigações apontam que a aeronave sofreu danos na fuselagem, nos sistemas hidráulico e do trem de pouso, de combustível, de ar-condicionado e no mecanismo de controle de voo.
Imagens registradas pelos investigadores mostram que o veículo de manutenção também sofreu sérios danos estruturais.
Procuradas, a companhia aérea e a concessionária que administra o aeroporto ainda não se manifestaram.