Gaza
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O Exército de Israel se prepara nesta sexta-feira (8), em meio a uma onda de críticas internacionais, para tomar o controle da Cidade de Gaza, a mais importante do território palestino, com o objetivo de “vencer” o Hamas e garantir a libertação dos reféns.
Após mais de 22 meses de guerra, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está sob uma enorme pressão para encerrar sua ofensiva nesse território palestino, onde mais de dois milhões de pessoas estão à beira da “fome”, segundo a ONU.
De acordo com o plano aprovado pelo gabinete de segurança de Israel, o Exército “prepara-se para tomar o controle da Cidade de Gaza” (norte), ao mesmo tempo que distribui “ajuda humanitária à população civil fora das zonas de combate”.
Além do desarmamento do Hamas e o retorno “dos reféns, vivos e mortos”, o plano busca desmilitarizar Gaza e colocá-la sob controle israelense antes de entregá-la a “uma administração civil alternativa que não seja nem o Hamas nem a Autoridade Palestina”, afirmou o gabinete de Netanyahu nesta sexta-feira.
“Não vamos ocupar Gaza, vamos libertar Gaza do Hamas”, que comanda o território desde 2007, afirmou o premiê no X.
O anúncio do plano gerou condenação internacional, desde Alemanha, um dos aliados mais fieis de Israel, a União Europeia, Espanha, Reino Unido e China. O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de urgência para domingo, confirmaram fontes diplomáticas à AFP.
Berlim informou a suspensão das exportações de armas para Israel no uso em Gaza. Netanyahu reagiu ligando para o chefe do governo alemão, Friedrich Merz, para expressar sua “decepção” com estas medidas que, segundo ele, “recompensam” o Hamas.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou Israel contra “uma escalada perigosa” que “corre o risco de aprofundar as já catastróficas consequências para milhões de palestinos”.
“Somos seres humanos”
O Hamas, que ainda detém 49 reféns israelenses em cativeiro, dos quais 27 estariam mortos, considerou que este plano equivale a “sacrificar” estas pessoas. O movimento islamista palestino denunciou “um novo crime de guerra” que “custará caro” a Israel.
Em Gaza, onde a população vive diariamente sob bombardeios, à mercê das ordens de evacuação emitidas pelo exército israelense, os habitantes temem o pior.
“Eles nos dizem para irmos para o sul, depois para retornarmos ao norte, e agora querem nos enviar novamente ao sul. Somos seres humanos, mas ninguém nos escuta ou nos vê”, disse à AFP Maysa Al Shanti, uma mulher de 52 anos, mãe de seis crianças.
Em Israel, as famílias dos reféns, que se manifestam diariamente, também estão preocupadas.
A decisão do gabinete “significa abandonar os reféns, ignorando completamente os repetidos alertas da liderança militar e a vontade clara da maioria da população israelense”, lamentou o Fórum das Famílias, a principal organização de parentes dos reféns israelenses.
Em Israel, o líder da oposição, Yair Lapid, denunciou uma “catástrofe” que provocará “a morte dos reféns e de numerosos soldados, custará dezenas de bilhões aos contribuintes israelenses e (provocará) um fracasso diplomático”.
Controlar Gaza
Segundo a rádio pública Kan, o plano consiste em várias etapas. Prevê “conquistar a Cidade de Gaza, cujos habitantes serão evacuados nos próximos dois meses” para campos de refugiados. “Em seguida, as tropas cercarão a cidade e operarão em seu interior”.
O exército, em colaboração com os serviços de inteligência, anunciou nesta sexta-feira que realizou uma série de “eliminações seletivas” no território palestino, contra cinco comandantes e combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica que participaram no ataque de 7 de outubro de 2023.
O porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, indicou que 18 pessoas foram mortas por disparos israelenses em todo o território.
Atualmente, o Exército israelense ocupa ou opera no terreno em quase 75% da Faixa de Gaza, principalmente a partir de suas posições permanentes ao longo da fronteira.
Israel já ocupou Gaza em 1967 e estabeleceu ali 21 colônias, que foram desmanteladas durante sua retirada unilateral em 2005.
A imprensa israelense anunciou durante vários dias uma operação de alguns meses destinada a “conquistar toda a Faixa de Gaza”.
Antes da decisão, meios locais relataram divergências entre o gabinete e o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir.
A guerra foi desencadeada em 7 de outubro de 2023, após o sangrento ataque do Hamas em Israel que deixou 1.219 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
As represálias israelenses deixaram de seu lado 61.330 mortos, também em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.