bandeira de Israel
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O governo israelense decidiu expandir a guerra para controle total de Gaza a partir de 7 de outubro, segundo aniversário da invasão do Hamas ao sul de Israel, depois de uma reunião de 10 horas, encerrada às quatro da manhã desta sexta-feira. A decisão está provocando muitas críticas e condenação entre israelenses, incluindo a cúpula militar, e líderes internacionais, a exceção dos Estados Unidos.
Cinco ações foram aprovadas na longa reunião: (1) Desarmamento do Hamas e da Jihad Islâmica; (2) Retorno dos 50 reféns restantes – 20 dos quais estariam vivos; (3) Desmilitarização da Faixa de Gaza; (4) Segurança de Israel na Faixa de Gaza; e (5) Existência de um governo alternativo que não seja ligado ao Hamas ou a Autoridade Palestina.
O chefe do Estado Maior das Forças de Defesa de Israel (FDI), general Eyal Zamir, afirmou que “as vidas dos reféns estarão expostas ao perigo se avançarmos com o plano de ocupar Gaza inteira. Não há garantias de que não os atingiremos”. Ele calculou que serão necessários de um a dois anos para executar o plano aprovado. E apresentou uma alternativa aos ministros do gabinete de segurança, que foi rejeitada. Os dois ministros da extrema direita foram contra interromper a nova ofensiva se o Hamas decidir negociar, negado por Netanyahu, e contra manter a ajuda humanitária aos palestinos evacuad0s das áreas de combate.
Os familiares dos reféns resumiram as decisões do governo numa frase: “É uma sentença de morte”. Para o líder da oposição, Yair Lapid, o governo está avançando na direção de “um desastre que levará a muitos outros desastres, uma completa contradição à opinião dos militares e dos serviços de segurança”. Ele ainda disse que Netanyahu está fazendo “exatamente o que o Hamas quer: que Israel fique encurralado no campo de batalha, sem objetivo, sem saber como será o dia seguinte, uma ocupação desnecessária que ninguém entende onde acabará”.
O ex-ministro da Defesa Avigdor Liberman concluiu que o governo “prova que decisões de vida e morte são tomadas em oposição a considerações de segurança e de objetivos da guerra”. Um candidato a primeiro-ministro numa próxima eleição, Yair Golan, do partido Democrata, descreveu a decisão do governo como “um desastre para gerações: nossos filhos e netos vão patrulhar as vielas de Gaza, gastaremos bilhões durante anos, e tudo isso para a sobrevivência política (de Netanyahu) e visões messiânicas (dos religiosos da extrema direita) ”. Os comunicados com protestos se multiplicaram na mídia durante esta sexta-feira.
Vários países já requereram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, como informou o embaixador palestino Riyad Mansour. Ela foi marcada para este sábado. Para o Hamas, uma escolha foi feita na madrugada de Jerusalém: “O sacrifício dos reféns”. O Irã disse que o deslocamento de mais de um milhão de palestinos da Cidade de Gaza e imediações equivale a “uma limpeza étnica”.
O chanceler alemão Friedrich Merz impôs um embargo de armas a Israel, que Netanyahu equiparou, imediatamente, a “um presente para o Hamas”. Partindo da Alemanha, que, por razões históricas, evita criticar Israel, a iniciativa causou grande impacto na comunidade internacional e entre os israelenses.
O Egito pede um retorno à mesa de negociações. Com o Catar, outro mediador, planeja oferecer um plano “tudo ou nada”, ou seja: em vez de um cessar-fogo parcial e libertação de reféns a conta-gotas, a resolução de todas as pendências: fim da guerra e devolução de todos os reféns. O presidente egípcio Abdel-Fattah el-Sissi está programando uma conversa direta com o presidente Donald Trump.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer sugeriu que Israel “reconsidere imediatamente sua decisão”, argumentando que ela não vai libertar os reféns e produzirá mais banhos de sangue”. A Bélgica convocou o embaixador israelense para explicar a decisão do governo Netanyahu.
A Arábia Saudita condenou “nos termos mais fortes e contundentes a decisão das autoridades de ocupação israelenses de ocupar a Faixa de Gaza”. Na plataforma X, o ministério de Relações Exteriores saudita acrescentou que “condena categoricamente sua persistência em cometer crimes de fome, práticas brutais e limpeza étnica contra o povo palestino irmão”.
O jornal New York Times lembrou as várias vezes, nos 22 meses de guerra em Gaza, em que Netanyahu disse que precisava de “só mais uma manobra militar” para derrotar o Hamas. Em abril do ano passado, ele afirmou que “Israel estava a um passo da vitória”. O resultado desse “passo”, três meses depois, foi a fome em Gaza, depois do bloqueio à entrada de ajuda humanitária. Agora, com o novo plano, ele repete a promessa. A decisão de passar a administração de Gaza a “forças árabes” não é possível, se não houver um pedido formal da Autoridade Palestina (AP), ignorada e rejeitada pelo governo israelense.
“Outra vez”, publicou hoje o New York Times, “Netanyahu prioriza suas necessidades políticas, ao escolher estender a guerra contra a recomendação de seus top generais, que dizem que o Hamas já foi suficientemente destruído. O primeiro-ministro está dando precedência a seus membros da coligação de extrema direita que dizem que a guerra deve continuar até a destruição do Hamas”.