O número representa um aumento de 14% nos últimos cinco anos e de 3,7% em relação a 2023. Na prática, uma pessoa sofre algum tipo de agressão a cada dois minutos no país.
Segundo especialistas, porém, nem todas as ocorrências chegam a ser denunciadas, o que indica que a quantidade real de vítimas pode ser ainda maior.
A maior parte dos casos envolve abusos cometidos por parceiros ou ex-parceiros íntimos, que somaram quase 171.100 registros em 2024 — 1,9% a mais que no ano anterior. Já a violência intrafamiliar, que inclui agressões entre outros familiares, cresceu 7,3% no mesmo período, totalizando 94.873 vítimas. Uma mesma pessoa pode aparecer em mais de uma dessas estatísticas, ao sofrer diferentes formas de violência.
Segundo o Welt, mais da metade dos casos envolvem lesões corporais, cerca de um quarto estão ligados a ameaças, coerção ou perseguição e aproximadamente 4% dizem respeito a crimes de natureza sexual.
Mulheres são as principais vítimas
As mulheres seguem sendo as principais afetadas em ambos os cenários. Elas são quase 80% das vítimas de violência entre parceiros íntimos e 73% no caso de agressões intrafamiliares.
“Violência doméstica geralmente significa violência contra mulheres, o que torna serviços como a Linha de Ajuda ‘Violência Contra Mulheres’ ainda mais importantes”, afirmou a presidente da Associação Social da Alemanha (SoVD), Michaela Engelmeier.
O Ministério da Família da Alemanha disse ao Welt que o aumento da violência doméstica pode ser atribuído a uma maior propensão à violência “à luz de crises sociais e desafios pessoais”. No entanto, a pasta também acredita que os números refletem uma maior disposição das vítimas em denunciar esses incidentes.
A lei que garante assistência gratuita a vítimas deste tipo de violência é recente na Alemanha. Aprovada em fevereiro deste ano pelo Parlamento alemão, a regra obriga os estados a criarem serviços de proteção e aconselhamento, incluindo a garantia de vagas em abrigos para mulheres vítimas de violência doméstica.
O governo federal pagará um total de 2,6 bilhões de euros (R$ 16,7 bilhões) entre 2027 e 2036 para garantir a implementação das medidas, mas o direito só entrará em vigor a partir de 2032.
Em 2024, a União Europeia também aprovou um regulamento com o objetivo de punir a violência de gênero, facilitando denúncias e endurecendo a punição aos agressores.
Governo quer monitorar agressores por GPS
Para proteger melhor as mulheres da violência cometida por parceiros íntimos, a ministra da Justiça da Alemanha, Stefanie Hubig, planeja apresentar um projeto de lei que obriga agressores a utilizarem tornozeleiras eletrônicas, seguindo uma regulamentação baseada no modelo espanhol, disse ela ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung.
Na Espanha, assim como no Brasil, a proibição de circulação do agressor não se limita a locais fixos, como a residência ou o local de trabalho da vítima, mas também impede que ele se aproxime além de uma distância determinada.
Para Hubig, a tornozeleira eletrônica pode permitir o monitoramento do agressor via GPS. A vítima poderia, então, carregar um dispositivo que a alerta caso o suspeito se aproxime.
Partidos pedem novas regras de proteção
O Partido Verde ressaltou que a violência contra mulheres não é um “drama familiar”, mas sim uma “violência patriarcal”.
“É preciso mais prevenção, trabalho com os agressores, processos mais rápidos e treinamento obrigatório para policiais e o Judiciário”, disse ao Welt a porta-voz do partido para políticas para as mulheres, Ulle Schauws.
O partido A Esquerda defendeu reformas nas regras de guarda e direito de visita. A presidente do SoVD também destacou a necessidade de políticas específicas para proteger mulheres com deficiência, que enfrentam violência física com muito mais frequência.